GEOGRAFIA

A globalização e as redes geográficas

Quando se fala em globalização, é possí vel se entender várias coisas, mas há uma que todos entendem: existe uma presença muito maior do mundo em cada localidade. Isso se expressa pela enorme presença de produtos de diversas partes do mundo e também pelo número elevado de informações sobre o mundo. Parte expressiva do que ocorre, do que se faz, do que se pensa em outras localidades pertence agora a nossa realidade.

Há uma nova organização do espaço geográfico que permite que o mundo esteja aqui e que estejamos no mundo e que a ele pertençamos. Essa nova organização permite queos fluxos se acelerem. E essa nova ordem geográfica é uma ordem de redes geográficas.Palavras-chave na Geografia, como espaço e território, hoje, devem ser acompanhadas por mais uma da mesma importância, a rede geográfica, que é a forma principal dos espa ços da globalização.
Os territórios nacionais possuem frontei ras, distâncias geográficas, culturais, políticas e econômicas diversas, mas o contato entre suas populações é cada vez mais intenso e isso se dá por meio de um "concorrente" do território: a rede geográfica. A rede geográfica tem o poder de ultrapassar as fronteiras nacionais. Existiria exemplo mais acabado dessa nova realidade do que a rede técnica mundial da in ternet?
Veja os mapas “Internautas, 1991-2006” e “Mundo: posse de computadores pessoais no mundo, 2002”:

São mapas quantitativos que fazem uso da variável visual tamanho, mapas para ver, pois devido à força expressiva da imagem, qualquer pessoa que os veja, vai perceber que o fenômeno representado é mais relevante nos EUA mesmo sem sa ber de que fenômeno se trata. “Internautas” é um mapa ordenado que faz uso da variável visual valor (tonalidades de uma única cor, no caso o marrom). As tonalidades mais escuras expressam um número maior de internautas (usuário individual) em grupos de 100 habitantes (o valor mais elevado é de 87,7 por 100) e as mais claras, o contrário. O mapa é acompanhado por um gráfico evolutivo e quantitativo que, por sua vez, faz uso da variável visual tamanho e mostra o crescimento do número de internautas no período de 1991-2006, indicando também o número de vezes que o volume de internautas foi multiplicado. O mapa “Mundo” tem uma força comunicativa poderosa e ao mesmo tempo revela de forma aguda certos fenômenos geográficos.
A linguagem das representações cartográficas foi uma preparação para a exploração cognitiva delas em conjunto. Afinal, elas, cada qual à sua maneira vão dar uma idéia dessa inovação revolucionária na vida humana e na estruturação dos espaços geográficos graças à rede técnica mundial da internet.

Redes geográficas: o espaço de ação das corporações transnacionais

Vamos esclarecer um dos enigmas da globalização e do mundo contemporâneo: a diferença entre termos que parecem ter o mesmo significado. Entre empresa e corporação a diferença é: uma corporação é um grupo que reúne várias empresas de diversos ramos e que concentra muito capital e interesses sob um único controle. Há cor porações que têm empresas que atuam no ramo do petróleo, no industrial, no agronegócio, no sistema financeiro e na produção de filmes para cinema e televisão, por exemplo. Isso só explica que, quan do os lucros crescem, os grupos econômicos vão diversificando seus negócios e suas localizações, a fim de garantir maiores lucros. A empresa é individual, só atua em um ramo.
Mas o que significa essa diferença entre uma multi nacional e uma trans nacional? Que espaços, de fato, são aqueles em que as corporações baseiam suas atividades? Serão os espaços nacionais (territórios nacionais) convencionais? As corporações econômicas mais poderosas transcendem os espaços nacionais e criam um espaço global com base numa malha de redes técnicas e geográficas.
Um autor importante pode ser citado nes se momento. Trata-se do geógrafo brasileiro Milton Santos:

"O interesse das grandes empresas é economizar tempo, aumentando a velocidade da circulação [...] Corporatização do território é a destinação prioritária de recursos para atender as necessida des geográficas das grandes empresas."

SANTOS. Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo - razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2008. p. 270.

Os fluxos de mercadorias, de serviços, de informações circulando rapidamente pelas redes técnicas (transportes e teleco municações) no mundo todo permitem o acesso a vastos mercados (e muito mais). As corporações que têm acesso, controle e investimento nessas redes técnicas obtém desse fato uma grande dose de poder econômico.


O prefixo multi significa muitos. Assim, multinacional é uma empresa que opera em vários países, constituída por grandes aglomerados industriais e financeiros. E transnacional? Transcender significa ultrapassar, ser superior. Assim, transnacional é uma empresa que ultrapassa os limites do país em que tem sua sede: está sediada num país e opera a produção ou parte dela em outros. Os dois conceitos se completam: grandes empresas que estão sediadas nos países desenvolvidos e operam ou controlam a produção nos países subdesenvolvidos. O termo global (globalização) refere-se a um processo em andamento, pois na verda de há muitas áreas ainda fora desse processo (as regiões em branco, os clarões), que sofrem uma “marginalização” em relação à globalização. Essas áreas "fora do eixo" da globalização foram designados como os deserdados da ordem mundial, áreas onde justamente registram-se eventos trágicos, guerras civis e conflitos regionais.
Um exemplo de funcionamento de uma rede geográfica em outro cenário, muito útil para compreender o funcionamento das redes na escala mundial, é a cidade de São Paulo. Essa me trópole sofre desde os anos 1980 uma profunda reestruturação no seu espaço geográfico: seu território está "invadido" por redes geográficas que se estruturam do seguinte modo:
• Pontos: habitações em condomínio fechado ↔ centros administrativos isolados também em formato de condomínio fechado ↔ centros comerciais (shopping centers, hipermercados) fechados e protegidos ↔ outras instalações do tipo (hotéis, resortsurbanos).
• Linhas: vias expressas, avenidas, cuja circu lação é predominantemente automobilística.
Os usuários dessas redes geográficas pro curam concentrar o fundamental de suas vi das em seu interior: residência, abastecimento, trabalho, estudos, lazer etc. E se possível, rara mente saem da rede, evitando assim o território pleno da cidade. Pesquisas mostram o número impressionante mente alto de habitantes da cidade que jamais foram ao seu centro histórico, jamais usaram transporte coletivo e jamais andaram a pé.
Há um custo financeiro para viver nessa rede protegida e ele não é baixo, o que resulta numa "seleção social” e diminui as trocas e as relações entre a população da cidade, em vista dessa separação (segregação?) sofisticada, na sua geografia. As trocas, as relações sociais desses usuários e construto res de redes se dão quase que somente entre eles. E o que isso tem a ver com as redes geográficas de escala mundial, construídas e alimentadas pelas corporações transnacionais?
Mais de 50% da circulação de capitais, de bens de produção, de serviços, de tecnologia que as corporações transnacionais põem em movimento ocorrem internamente às suas pró prias redes. Outro ângulo dessa lógica: 30% das exportações mundiais são trocas no interior das redes das corporações. É uma movimentação econômica que não se irradia para os territó rios dos países onde elas não instaladas.
Essa radiografia geográfica da estruturação transnacional das corporações revela:
1. a im portância das redes geográficas na globalização que se constrói;
2. um pouco das estratégias e do poder dessas grandes empresas.
Muitos da dos econômicos podem ser alinhavados para dimensionar mais amplamente a ação das corporações, mas eles poderão ganhar mais significado se sua lógica espacial for considerada.
Especialização e troca entre filiais de uma corporação automobilística no sudeste Asiático

O mapa demonstra, em uma situação de uma corporação automobilística do sudeste asiático um fenômeno que ocorre no mundo todo: a especialização na linha de montagem de um produto e a circulação dessas peças até o produto atingir seu estágio final na montagem. Cada país se especializa em uma parte, por exemplo, de um automóvel ou pela mão e obra mais barata dessa parte ou pela matéria prima rica, assim deixando o automóvel, em sua montagem, com menos gastos e mais lucro para a corporação.
Grandes fluxos do Comércio e a Malha Global
O comércio é por definição uma forma de relação humana que implica colocar em contato grupos sociais diferentes. Na origem da história humana para um grupo A interessava obter de outros grupos aquilo que não se con seguia produzir, aquilo que somente outros grupos possuíam. Esse gênero de relação exigia estender relações sobre espaços mais amplos, obrigava a abrir caminhos, rotas e construir portos, estimulava a criação de novos meios de transporte e impunha a criação de estruturas para os comerciantes. Como se vê, o comércio é uma atividade humana produtora de novos es paços humanos e uma atividade que ensinou o ser humano a lidar com a distância geográfica.
No mundo contemporâneo tudo isso intensificou extraordinariamente. Com os novos meios disponíveis, as atividades comerciais aumentaram o poder de uma das forças propulsoras da "fabricação" de novos espaços e do aperfeiçoamento dos meios de superação da distância entre as realidades geográficas. Vamos pensar nas marcas de produtos comerciais que frequentam nosso dia-a-dia. Qual a origem nacional da marca? Numa série de produtos (roupas, calçados e eletrônicos, por exemplo) onde é a localidade da fabricação? São duas coisas diferentes: um produto pode ter uma marca de origem americana e ser produzido na China. Uma marca pode ser francesa e seu produto pode ser, ao menos em parte, produzido no Brasil.
Isso revela a complexidade das relações atuais, num mundo globalizado, embora uma relação comercial, ao pé da letra, resuma-se à saída do local de produção (ou ponto de venda) até o ponto do consumo.
Os fluxos de produtos que chegam até nós vêm do mundo, de um sistema produtivo e comercial que se organiza na escala mundial, não somente dos nossos vizinhos, do mundo ocidental ou do extremo oriente.

Vídeo: A História das Coisas

Este vídeo aborda 
uma linguagem simples, mostra os problemas sociais e ambientais que o capitalismo globalizante, provoca no mundo. Ele aborda a exploração dos Estados Unidos, sobre os países subdesenvolvidos, onde amão-de-obra é abundante e barata. R
etrata as consequências que o consumo desenfreado faz com o nosso meio ambiente, com apoluição do ar, da água, as exterminação de animais, os tóxicos usados nas indústrias e a eliminação das riquezas naturais em prol do consumo no mundo.

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